Jerri Almeida
Diretor do DAFA
Nos dias atuais, não são poucos os pais e educadores que se inquietam com o prematuro exercício da sexualidade por parte significativa dos adolescentes. Apesar de vivermos na sociedade da informação, as famílias muitas vezes não se apropriam dessas informações para o diálogo orientador. Muitos pais partem, equivocadamente, do princípio que a mídia já está esclarecendo, ou que cabe à escola a orientação sexual dos seus filhos.
Na verdade, quem informa nossos filhos? Ou, que tipo de informação eles recebem? A cultura televisiva muito fala de “prazer”, mas pouco de “responsabilidade”.
Ocorre que, de forma preocupante, o índice de gravidez na adolescência vem aumentando no Brasil. Segundo dados do IBGE, a idade da mãe na ocasião do parto, no período de 1992 a 2002, aumentou significativamente entre jovens na faixa dos 15 aos 19 anos. O que se poderia esperar se meninas de 11 a 14 anos passam a noite nas “baladas”, com a permissividade dos pais?
A orientação sobre sexualidade saudável deve ter sua base mais substancial na educação familiar. Joanna de Ângelis em seu livro Adolescência e Vida, adverte: “Os modelos devem ser silenciosos, falando mais pelos exemplos, pela alegria de viver, pelos valores comprovados, ao invés das palavras sonoras, mas cujas práticas demonstram o contrário.” (p. 35)
No processo de educação dos filhos, um sentimento quase sempre esquecido é a vergonha. A vergonha é um sentimento social que nasce na relação com o outro, mas também possui um componente moral, que visa regular o comportamento humano, pois busca restringir e adequar suas ações, ordenando a conduta.
O ser humano é orientado por emoções e sentimentos que fazem parte de nossa vida psíquica e social. Sabemos, também, que um sentimento pode ser positivo em um contexto e negativo em outro. A “vergonha positiva” é aquela que regula ou inibe uma ação moralmente reprovável, conforme a convenção dos valores humanistas. A vergonha é um sentimento saudável no momento em que se torna, por exemplo, inibidor de uma exposição exagerada da sexualidade, atuando no resguardo da intimidade própria do sujeito. Na educação familiar é imperativo, sob esse aspecto, a preservação do sentimento de vergonha. Observamos, no entanto, que quando se trata de filha mulher, a criança, seja por vontade própria ou dos pais, passa a usar roupas que permitem uma exposição exagerada do corpo. Muitas dessas crianças assim agem buscando incorporar seus ídolos, principalmente cantoras e apresentadoras de programas infantis. A criança torna-ser refém, desde pequena, e muitas vezes com a anuência de seus familiares, dessa cultura da exposição, que rompeu com o sentimento de vergonha, sob o impulso do princípio do prazer.
Considerando-se que a sexualidade é intrínseca do espírito, e que este possui todo um passado de vivências nessa área, seria justo que os pais percebessem que todo estímulo precoce à sexualidade na criança poderá, conforme a bagagem que aquele ser já possua, gerar condicionamentos mentais que lhe afastem de preservar sua própria intimidade. A partir daí, define-se uma lógica da permissividade onde tudo passa a ser “normal”, caindo-se no perigoso relativismo da “naturalidade”.
Enquanto a filha mulher está mais exposta a uma cultura que lhe induz a exposição exagerada do corpo e da intimidade, o filho homem é detentor de uma cultura familiar que relaciona a afirmação da masculinidade com o exercício sexual. Essa conduta familiar muito forte no passado, ainda encontra os seus remanescentes na contemporaneidade.
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