segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

CONTEÚDOS DE ESTUDO – 2011


Primeira Parte

Introdução

01- Revisão dos conteúdos anteriores

02- Análise do filme: Coisas de Família


Segunda Parte 

Módulo I – CONJUGALIDADE 

03- Conjugalidade: possibilidades e desafios – Conflitos intraconjugais na pós-modernidade

04- Observações sobre a (falta de) comunicação na vida  conjugal

05-  Convivência, casamento e espiritualidade


Módulo II – GESTAÇÃO E REENCARNAÇÃO

06- O direito à vida

07- Organogênese e as leis biogenéticas – embriologia e genética na visão espírita

08- A interação energético-espiritual entre o reencarnante e os pais biológicos

09-  Educação de pais gestantes para o exercício da maternidade e paternidade responsável

10- Práticas de educação anímico-consciencial mediante exercícios de visualização, mentalização, meditação e vivências.


Módulo III – DESAFIOS ATUAIS

11- Sexualidade precoce e gravidez na adolescência

12- O pai invisível – gestação na configuração monoparental

13- Aborto: seus múltiplos agentes e reflexos

14- Impossibilidade da gravidez e a opção pela adoção


BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ALMEIDA, Jerri Roberto S. MARQUES, Silvano F. Família Frente & Verso – Um olhar, a quatro mãos, sobre as relações. Porto Alegre: Francisco Spinelli, 2009.

BALDO, Elisabetta. Não Aguento mais! Uma análise realista das crises das relações a dois. São Paulo: Paulinas, 2007.

CANALIS, Eleonora. Se você me ama, diga! Observações sobre a (falta de) comunicação na vida conjugal. São Paulo: Paulinas, 2008.

FRANCO, Divaldo (Joanna de Ângelis) Encontro com a paz e a saúde. (Cap. 5: Relacionamentos angustiantes).Salvador/BA: LEAL, 2007.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. J. Herculano Pires.  64ª. Edição. São Paulo: LAKE, 2004.

TEIXEIRA, Cícero Marcos. Educação de Pais Gestantes. Porto Alegre: AGE, 2000.

TEIXEIRA, Raul (Camilo) Desafios da Vida Familiar. Niterói-RJ: Editora Frater, 2006.


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A violência contra a mulher e a busca pela maturidade humana (Parte II)

Instinto e paixão

A natureza dotou a criatura humana, com amplas capacidades e instrumentais necessários ao seu desenvolvimento ao longo de sua longa jornada de evolução antropológica-espiritual. A evolução da estrutura cerebral é exemplo disso. Conforme aponta o cientista Eugênio Mussak, a primeira parte do cérebro, a mais antiga formada a cerca de 350 milhões de anos, é constituída pelo hipotálamo e pelos núcleos de base, é o denominado “cérebro reptiliano”. Ele seria responsável, entre outras coisas, pelo nosso comportamento instintivo, vinculado à necessidade de preservação da vida. Assim, numa situação de perigo real ou imaginário, o indivíduo assume comportamentos instintivos, muitas vezes também agressivos, no intuito de se auto-preservar. Imaginem dois indivíduos numa ilha isolada com imensa restrição de alimentos? Haveria espaço para uma divisão “civilizada” do alimento? Talvez houvesse até o momento limite da sobrevivência para ambos. Nesse momento crítico, as pessoas não conseguiriam mais raciocinar adequadamente, assumindo posturas maquinais, instintivas e agressivas na defesa de sua preservação.
Ocorre que com a evolução morfológica e fisiológica do cérebro, surge outra parte, “mais nova”, (algo em torno de 10 milhões de anos atrás) responsável no ser humano, pelas emoções e sentimentos: o sistema límbico. Há muitas mulheres que vivem sob o domínio das emoções. Deixam-se dominar por seus companheiros e, quando ocorre uma ruptura nesse relacionamento, não conseguem mais fazer nada. Deprimem-se, a vida perde o sentido, não se alimentam adequadamente, afastam-se dos amigos e da família. Quando se apaixonam, independente do caráter ou temperamento do outro, ficam fascinadas. Não desejam perceber o outro como ele realmente é, mas conforme aquela matriz idealizada por elas.
 A parte mais nova do cérebro, com apenas 50 mil anos, o neocórtex (também chamado de massa cinzenta), seria o responsável pela função do pensamento. Logo, a parte instintiva é a mais antiga no ser humano, seguida pelas emoções. Pode-se dizer, sem nenhum demérito para ninguém, que possuímos um “animal” dentro de nós.
Mas também, como já mencionamos, existem pessoas que se deixam governar pelas emoções. O sistema límbico está fortemente vinculado ao princípio do prazer e para a fuga do desprazer. Nesse ponto, devemos articular também o princípio da paixão. A paixão é uma emoção forte, arrebatadora que compromete o discernimento. As paixões, portanto, estão muito vinculadas a temas como: sexo, dinheiro, fama, jogo, poder e beleza.
A própria ideia de “justiça” muitas vezes, termina sendo cooptada ou corrompida pela paixão, conforme esclarecem os espíritos para Allan Kardec na questão 874 de O Livro dos Espíritos:  “É porque a esse sentimento [de justiça] se misturam paixões que o alteram, como sucede à maior parte dos outros sentimentos naturais, fazendo que os homens vejam as coisas por um prisma falso.” Ou seja, quando a paixão domina no homem, ele acaba elaborando sua própria, e muitas vezes errada, noção de justiça. A capacidade de pensar e raciocinar, como aludimos, é algo muito recente para a espécie humana. O pensamento, do ponto de vista da evolução cerebral, foi a última estrutura que apareceu. Por isso, em termos de nossa evolução planetária, grande parte das pessoas são muito instintivas (com boa dose de agressividade) e também bastante emocionais (com forte apelo das paixões).
A mistura entre “instinto” e “paixão” é um componente extremamente perigoso. Isso abre espaço para relacionamentos precipitados, já com “data de validade” vencida. Pessoas assim terminam criando relacionamentos desastrosos, permeados de emoções em desequilíbrio. O princípio da paixão não é originariamente mal. O problema, alerta a questão 907, de O Livro dos Espíritos, reside no “excesso” ou o “abuso” que delas fazem os homens. Ocorre que quando o indivíduo deixa-se dominar pelos instintos e pelas paixões, volta a bestialidade da fera. Nesse sentido, o grande desafio da evolução, é permitir ao pensamento uma ascendência sobre essa estrutura ancestral, empenhando esforços na educação de seus impulsos, emoções e sentimentos. Para isso, no entanto, é necessário que o sujeito já tenha atingido certo nível de maturidade interior que lhe permita essa disposição.

sábado, 1 de janeiro de 2011

A violência contra a mulher e a busca pela maturidade humana (Parte i)

 
 Jerri Almeida


 Como pode dar-se que, no seio da mais adiantada civilização, se encontrem seres às vezes cruéis quanto os selvagens?
“Do mesmo modo que numa árvore carregada de bons frutos se encontram verdadeiros abortos. São, se quiseres, selvagens que da civilização só têm o exterior, lobos extraviados em meio de cordeiros. Espíritos de ordem inferior e muito atrasados podem encarnar entre homens adiantados, na esperança de também se adiantarem, Mas, desde que a prova é por demais pesada, predomina a natureza primitiva.”

O Livro dos Espíritos – Questão 755.


Caracterização do problema

Conforme dados da Organização Mundial da Saúde, quase metade das mulheres assassinadas são mortas por seus maridos, ex-maridos ou companheiros. Tal violência responde por aproximadamente 7% de todas as mortes de mulheres entre 15 a 44 anos no mundo. Na definição da Convenção de Belém do Pará (Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, adotada pela OEA em 1994), violência contra a mulher é definida como: “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada”.
A lei número 11.340, de 7 de agosto de 2006, também conhecida por Lei Maria da Penha, em seu  Capítulo II, artigo 7ª relaciona algumas formas de violência doméstica contra a mulher. Dentre elas destacamos: I. violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II. violência psicológica, causadora de danos emocionais e diminuição da autoestima, que lhe prejudique o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem e exploração; III. violência sexual, coação que lhe induza a usar ou comercializar a sua sexualidade, que lhe impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force à gravidez, ao matrimônio e ao aborto; IV. Violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, documentos pessoais, bens valores e direitos, bem como seus recursos econômicos.
Para alguns estudiosos das relações sociais, a violência contra a mulher é uma manifestação das relações de poder, historicamente construídas desde as sociedades tribais, onde os homens se auto-afirmavam pelo imperativo da força bruta. Para Roudinesco, é em Aristóteles que se inicia uma “racionalização” da inferioridade feminina e da supremacia do homem que desencadeará uma lógica de dominação do gênero (sexual) masculino na sociedade. Para Aristóteles, o sêmen do homem é soberano pois é nele que está o princípio da forma, ao passo que o da mulher é apenas a “matéria que recebe a forma”. O macho é o ser que gera em outro, enquanto a fêmea gera em si. O homem é ativo e a mulher é passiva, logo, as implicações disso se traduzem para o princípio das relações entre os gêneros sexuais baseado na lógica monárquica do poder “soberano” (sexual e político) do homem.
Apesar dos avanços sociais, essa herança cultural arcaica, consciente ou não, permanece em parte no imaginário masculino. Muitos ainda continuam achando que o melhor jeito de resolver um conflito ou impor-se, é por meio do grito e da força física. A própria forma de educar o filho homem em nossa sociedade, é ressaltando nele o papel masculino da agressividade e da força enquanto elementos “positivos” na configuração da “coragem”.  Assim, o adulto agressivo de hoje, certamente em muitos casos, foi a criança agressiva de ontem que encontrou a própria identidade na agressão.
Nos últimos tempos, acompanhamos os alarmantes casos que se proliferam, de violência cometida contra mulheres. Os agentes agressores, não são estranhos, desconhecidos, mas seus próprios maridos ou companheiros que, diante da crise conjugal, não aceitaram  a ruptura da relação protagonizada pelas esposas.
O que vemos acontecer são processos psicopatológicos, onde não se aceita perder o objeto de poder e de desejo. Na história psíquica dessas criaturas, encontraremos um indivíduo despreparado emocionalmente para a “frustração”. Jamais aguentariam ser “abandonados”, tendo que viver com uma ideia de “rejeição”.
 Há um misto de orgulho exacerbado, possessividade, ciúme obsessivo, baixa autoestima, o que resulta num complexo quadro psíquico de autoafirmação quando se está no controle sobre o outro, nesse caso, a namorada, esposa ou companheira. Diante da separação, que representa um verdadeiro colapso em toda essa estrutura psico-emocional, o desarranjo mental torna-se ainda maior, conduzindo o sujeito a atitudes extremas como matar e matar-se.  
O que para outros indivíduos seria uma situação difícil, mas superável, no caso da separação conjugal para esses sujeitos, torna-se verdadeira obsessão a vingança diante da rejeição quando suas tentativas de recompor o vínculo se tornam, igualmente, frustradas.
Possivelmente, esses sujeitos enquanto crianças, durante o desenvolvimento psico-afetivo, não aprenderam, não foram educados para enfrentar um sentimento fundamental da espécie humana: a frustração. Muitos foram mimados desde o berço, eram tratados como “coitadinhos”!  Acreditamos que isso explica em parte, mas não totalmente, esses comportamentos tão agressivos. Por isso, vamos recorrer a um estudo mais amplo de nossa estrutura instintiva.  

(Obs: Continua na próxima semana)




[1] Escritor e trabalhador espírita. Historiador.